sexta-feira, 29 de março de 2013
# 140
A importância da boa decisão escapou-me da primeira vez que vi Os Descendentes. É natural. Quase sempre procuramos nos filmes aquilo que ecoa na nossa história pessoal, e é também disso que trata esta realização de Alexander Payne. A boa decisão apresenta-se, pelo contrário, no que transcende o homem e a sua passagem pela vida. Decorre no entanto da dádiva da vida, algo que nos foi confiado e com o qual lidamos tantas vezes de forma egoísta. Isto conduz à reflexão de Matt (George Clooney) sobre os elementos da sua família, simbolizados por ilhas de um mesmo arquipélago, isoladas e progressivamente mais distantes umas das outras.
Só que as pessoas partem, como Elizabeth após o coma, e as ilhas, a terra permanece(m) para ser desfrutada por outros e por outras famílias. A construção de Os Descendentes vai das consequências do isolamento, à tomada de consciência que leva à boa decisão (a de Matt em não vender os terrenos que num passado remoto tinham ficado à responsabilidade da sua família), até á reconciliação aparente com as filhas no momento do luto.
O carácter banal da cena final, com os três (pai e filhas) na frente do televisor a comerem gelado, parece sugerir que o filme terminara sim com a boa decisão de Matt: a única que perdura além das gerações vivas em benefício de muitas gerações vindouras, e em respeito por quem veio antes. Os Descendentes faz-se com os elementos de muitos outros filmes dramáticos seus semelhantes, mas não devemos perder o sentido do real alcance. O do indivíduo que consegue ver mais para lá dos próprios dramas. É essa a nossa única decisão.
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