segunda-feira, 11 de março de 2013

# 100




















Há neste filme uma criança que não gosta de dormir porque tem medo do que possa vir a sonhar. Mas Side Effects/ Efeitos Secundários, de Steven Soderbergh, não é sobre esta criança que é inocente em relação aos seus temores. É sobre todos nós, adultos, a nossa culpa e responsabilidades na fuga à realidade que preferimos deturpada pelos estímulos à tipologia de consumo que corresponde a um sonho desperto. Os antidepressivos entram aqui e estão cada vez mais disseminados porque nos agarramos a expectativas e a estatutos, e quando os acontecimentos escapam ao controlo e fracassamos, a depressão logo se instala. Isto está no filme de Soderbergh, problematizado como se um excesso de presente nos roubasse a perspectiva de futuro. É o comentário social e político sobre o mundo contemporâneo tão do desagrado de Steven Soderbergh, que aqui felizmente não se limita à denúncia por via do exercício de estilo de sobrolho levantado e apresenta uma intriga criminal, actualizando elementos do film noir, que fixa o interesse, doseando bem as sucessivas revelações e de modo a que o comentário político esteja subjacente em todo o processo. O Soderbergh engajado de quase sempre mas que desta vez tem uma história para contar e um vilão que podia ser o nosso vizinho do lado. Efeitos secundários entendem-se no filme pelas consequências dos nossos actos e a bula nunca está completa.

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