segunda-feira, 27 de maio de 2013
# 225
Comigo passou-se da seguinte forma. Os filmes de Jason Reitman só bateram à terceira (Young Adult, de 2011), sendo que à quarta produziu estrondo. A quarta que foi repetição da segunda, com um olhar meu diferente. Podemos ver Up in the Air (2009) pelo ângulo social ligado ao trabalho do protagonista, Ryan Bingham, que é o de despedir pessoas, envergando um sorriso que inspire oportunidade em vez de medo.Só que o aspecto mais rico do filme de Reitman passa pela educação sentimental de Bingham, que começa por ser tutor de uma jovem mulher acabada de ingressar na empresa onde trabalha, para executar funções idênticas às suas, acabando por ver-se atraído pela possibilidade de se juntar a outra mulher, que o filme apresenta como a versão dele próprio com "uma vagina".
Bingham, como outro qualquer narcisista dos tempos actuais, apaixona-se pela versão feminina de si mesmo, mas o que importa a partir de dada altura é o desejo da personagem em baixar das nuvens por onde acumula milhares de milhas em deslocações de avião em trabalho, para se fixar numa mulher que representa por último o lar de que sempre se afastou na forma da família, e que não veio a construir por vontade própria. Junte-se então este Up in the Air a The Descendants (2011) de Alexander Payne, em favor de uma corrente conservadora do cinema de Hollywood que valoriza os laços pessoais, a responsabilidade individual, e o compromisso.
Por ironia mas certamente mais por conveniências de produção e bilheteira, ambos os filmes têm George Clooney no papel central, um dos solteiros mais cobiçados do planeta, rosto do liberalismo na esfera política, que alguns realizadores também escolhem para fazer significar as angústias do homem moderno, inseguro e um pouco cínico, que talvez pense que pode viver nas nuvens a vida inteira, como se já o efeito da gravidade, quando não dos sentimentos, o não levasse a procurar uma razão para o regresso. A condição de anjos atrai-nos, porque nos protege. Só que até os anjos, cansados de serem anjos, invejam a nossa imperfeita condição humana, aberta a novos encontros e à dor. Vem no Wenders de mais altos voos.