quinta-feira, 9 de maio de 2013

# 200



Descobri William Basinski com este CD e numa loja de discos que já não existe, a Ananana. O som ali presente levou a outros registos semelhantes que deixaram grilada a minha companheira da altura, que achava estranho eu escutar este tipo de música, extra-terrestre como ela caracterizava.

Anos mais tarde, fui encontrar William Basinski no único concerto a que assisti no Barreiro. Era o Out.Fest, e eu tinha-me tornado num seguidor da drone music. Cheguei a ter todos os discos de Basinski, o que foi deixando de ser verdade por circunstâncias da vida, diferentes maneiras de pensar e de orientar os interesses, e algumas mudanças de casa. A música que William Basinski levou à outra margem veio a entrar num outro disco, que também conservo ainda.



O concerto do Barreiro foi memorável e recordo até detalhes, como a imagem projectada de nuvens que pareciam imóveis mas que se iam transformando com a cadência das quase imperceptíveis mudanças no som introduzidas pela troca de fitas magnéticas, algumas que terão perdido o seu total aproveitamento naquela noite. Esta dimensão de se trabalhar com material altamente perecível liga-se à componente poética do trajecto de Basinski, onde o papel do músico é essencialmente o de reproduzir e transformar os sons criados pelo próprio ou por outros, até que neles se manifeste somente o fantasma da sua origem. Um pouco como olhar um conjunto de fotografias antigas de gente que não se conhece mas que nos interpela como um rosto sempre interpela aquele que o olha.

E agora, Nocturnes.
A mesma sensação de progressiva imersão, que ao vivo sai sempre intensificada, como poderão comprovar os que forem no próximo sábado encontrar Basinski no Teatro Maria Matos. Encontro imediato de um grau que tem os contornos vastos do subconsciente, aliado ao carácter impermanente da consciência. A música e as imagens de William Basinski voltarão a abrir-se para por elas entrarmos com aquilo que levarmos para esse momento.

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