Quer no filme A Rainha (Stephen Frears, 2006) como na mini-série Parade's End (HBO, 2012), é-nos dado a observar e sentir a alma conservadora através dos dois protagonistas: Isabel II de Inglaterra e o aristocrata Christopher Tietjens, interpretados por Helen Mirren e Benedict Cumberbatch. Não encontrei as imagens certas para ilustrar a ideia que passo a exemplificar. No meu entender, nada define a alma conservadora como o amor à terra, mais no sentido de mundo natural que de pátria, e acima de tudo no sentido em que se trata de um mundo que se perpetuaria na sua lógica não fosse a intervenção do homem sobre ele, tantas vezes abusiva. A dada altura, no filme de Frears, a rainha aproxima-se de um veado vermelho abatido em caçada, numa atitude respeitosa, quase compungida, para com o animal (no que este representa) cuja pose majestática tinhamos observado antes, em total harmonia com os espaços em volta. Também Tietjens, que é um indivíduo desprovido de vaidade, quando não consegue evitar o desastre com a charrete onde passeia com Valentine Wannop, de que resulta o ferimento da égua da família da rapariga, abraçará mais tarde o animal pedindo-lhe desculpa pelo sucedido, pela fraqueza da sua alma entorpecida pelo interesse que Valentine lhe despertou, e que conduziu ao acidentado devaneio de que o animal foi o mais prejudicado. Pode parecer fútil aos olhos mundanos esta ligação da alma conservadora a aspectos remotos à nossa vida moderna e citadina. A mim comove-me, imensamente.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
# 397
Quer no filme A Rainha (Stephen Frears, 2006) como na mini-série Parade's End (HBO, 2012), é-nos dado a observar e sentir a alma conservadora através dos dois protagonistas: Isabel II de Inglaterra e o aristocrata Christopher Tietjens, interpretados por Helen Mirren e Benedict Cumberbatch. Não encontrei as imagens certas para ilustrar a ideia que passo a exemplificar. No meu entender, nada define a alma conservadora como o amor à terra, mais no sentido de mundo natural que de pátria, e acima de tudo no sentido em que se trata de um mundo que se perpetuaria na sua lógica não fosse a intervenção do homem sobre ele, tantas vezes abusiva. A dada altura, no filme de Frears, a rainha aproxima-se de um veado vermelho abatido em caçada, numa atitude respeitosa, quase compungida, para com o animal (no que este representa) cuja pose majestática tinhamos observado antes, em total harmonia com os espaços em volta. Também Tietjens, que é um indivíduo desprovido de vaidade, quando não consegue evitar o desastre com a charrete onde passeia com Valentine Wannop, de que resulta o ferimento da égua da família da rapariga, abraçará mais tarde o animal pedindo-lhe desculpa pelo sucedido, pela fraqueza da sua alma entorpecida pelo interesse que Valentine lhe despertou, e que conduziu ao acidentado devaneio de que o animal foi o mais prejudicado. Pode parecer fútil aos olhos mundanos esta ligação da alma conservadora a aspectos remotos à nossa vida moderna e citadina. A mim comove-me, imensamente.