quarta-feira, 9 de outubro de 2013

# 391





























Dead Man (1995) é um filme falado, tem uma cadência de diálogos como as de grande parte dos filmes a que assistimos, mas é como se Jim Jarmusch se propusesse o desafio, a cada plano, de fazer um mudo. A alma do cinema mudo, a sua expressividade interior feita imagem, está toda em Dead Man, bem distante de exercícios copistas, que se limitam a reproduzir o formato, como o caso recente e multipremiado de O Artista (2011). Johnny Depp é dos raros actores hoje em dia que podiam figurar num filme de D.W. Griffith (1875-1948). Compare-se as imagens de Dead Man e de Broken Blossoms (o que foi possível encontrar desta obra de 1919). E preste-se finalmente atenção às palavras de William Blake, contabilista que se descobre poeta ao dar de caras com o índio Nobody: "Some are born to sweet delight/ Some are born to endless night". Como se apenas com o preto-e-branco da fotografia, que marca igualmente a primeira metade da história do cinema, fosse possível filmar a noite interminável que é a existência de William Blake. Primeiramente um morto-vivo, para no final de Dead Man se tornar num vivo-morto.

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