segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

# 464




















Percebo que uma compilação dos Pet Shop Boys se chame PopArt porque música pop, no sentido popular, radiofónico, de massas, é aquilo que a dupla vem fazendo desde a década de 80. Dedicando hoje a atenção que estas canções merecem, indo ao detalhe das lyrics, de cada textura instrumental ou electrónica, eis que dúvidas surgem sobre se arte pop é afinal aquilo que eles construíram, canção após canção, disco a seguir a disco, já que o chavão pop aliado a arte pressupõe o impacto ao mesmo tempo universal e efémero, circunscrito ao momento revelador. Os Pet Shop Boys envelheceram nos trinta anos que levamos em sua companhia, só que as mesmas marcas temporais não são observáveis na música. A ausência do efeito que seria expectável, pode ser amplamente confirmada ao longo dos quase 150 minutos de música, repartida por dois cd, que é o caso de PopArt. Todas as canções foram previamente remasterizadas para novas edições dos álbuns originais, e surgem aqui arrumadas por uma ordem que nada tem de cronológico. Não sei se a intenção era a de baralhar as coordenadas do tempo para nos fazer notar como a discografia dos Pet Shop Boys, ao contrário dos autores, não acrescentou uma ruga, mas é facto indesmentível. West End Girls, por exemplo, que foi a canção que me apresentou os Pet Shop Boys, por alturas do Diamond Life de Sade e do Steve McQueen dos Prefab Sprout, mantém a frescura e o mesmo apelo (para dançar?) como se tivesse saído ontem para o mundo. Nos Pet Shop Boys converge o paradoxo do que gerou adesão imediata e transcendeu a sua época. Pelo menos ao nível destes maiores êxitos, os Pet Shop Boys encontram-se num grupo muito restrito. Passei a estimá-los como sempre mereceram que o fizesse. Prazer todo meu; inteira justiça a eles. Reencontrado aqui o tempo que foi o nosso, e aquelas outras partes em que lhe passámos ao lado. 


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