"A Sida, o Amor, e os Cães". Tal como na tradução do título de uma comédia com Billy Crystal, que do original City Slickers fez "A Vida, o Amor, e as Vacas". O riso podia ser resposta de Joaquim Pinto ao desespero motivado pela sua condição clínica (a serpositiviodade), não fosse ele ter-se agarrado à vida, à sua história, à cultura no mais abrangente sentido, na edificação desta arqueologia de tudo que é E Agora? Lembra-me. Joaquim Pinto fez um filme de combate mais que de resistência. Um filme que quer ganhar o presente de cada instante, um testemunho de vida superior à maior adversidade, uma afirmação permanente do sujeito do seu autor, um cinediário ao mesmo tempo concreto e subjectivo, geográfico e mental. Tudo ligado por uma corrente de amor cujo núcleo é constituído pelo seu companheiro e pelos vários cães que recolheram juntos, que ramifica e se estende para as muitas áreas de interesse de Joaquim Pinto, e para as afinidades que o cinema ajudou a criar. E Agora? Lembra-me vai do muito micro ao muito macro, do lugar aqui e agora ao mundo de há milhares de anos. O homem contém multitudes. Qualquer homem, qualquer. Mas é preciso ser-se homem de cultura (um artista) para saber organizá-las de maneira a que a experiência individual ecoe no globo em que vivemos e nas vidas de nós todos.
(no Festival Queer)