Eis-nos cara a cara com o coração ingrato de
Os Sopranos. Começo da 6ª e última temporada. Tony recebe um disparo inadvertido no estômago e está entre a vida e a morte. Em sonhos, ou em delírios, imagina-se com o mesmo nome numa existência alternativa, confundido com a identidade de alguém que terá trocado de pasta e carteira com ele: um tal de Kev
in Finnerty. No mundo dos despertos conjetura-se sobre se Tony escapará desta. Há quem se distraia com a ideia de o poder vir a suceder (Sil e Vito). E é isto, o coração ingrato de uma das melhores séries de todos os tempos. "Proust à bolonhesa" confeccionado em New Jersey. Quando vários querem "ser" Tony, e o próprio espectador cria forte identificação com o protagonista, Tony namora no inconsciente mais profundo com a possibilidade de ser um outro homem. "Ninguém diga que está bem", escreveu um amigo avisado, que não encontro e que não sabe de mim há demasiado tempo. Felizmente existe
Os Sopranos para colocar em perspectiva as coisas importantes. Nada sabemos de facto das vidas uns dos outros, ou talvez mais facilmente nos reconciliássemos com a que temos. Com a pessoa em que nos tornámos.