sexta-feira, 5 de abril de 2013

# 155



















"it's like true love"

A expressão pertence a Dave Grohl, pessoa que teve a ideia e tornou possível a realização deste filme, assim dito num sentido mais subjectivo, e documentário, que é do que objectivamente se trata, sobre os estúdios Sound City, na Califórnia, que se mantiveram activos durante cerca de quatro décadas (1970-2011), e onde se produziram registos memoráveis do rock americano desse longo período.
Sound City é filmado em cerca de três-quartos como se de uma história de amor se tratasse, objectificada na mesa de gravação de marca Neve que viria a ser comprada por Dave Grohl, e que é hoje parte do estúdio privado do músico dos Foo Fighters, onde aliás o CD Real to Reel, complementar à existência do filme, foi produzido e cujas gravações ocuparão a restante quarta parte do DVD, mostrando a participação de convidados como Stevie Nicks, Trent Reznor, Josh Homme, e Paul McCartney, que à excepção do Beatle ajudaram a construir o legado musical dos estúdios Sound City.
Existe o amor à música, e a um som particular que se obtinha em Sound City, doce, analógico e humanizado, e depois o amor enquanto experiência que vive da interacção do factor humano. Mais do que qualquer equipamento, do que a opção posta em prática de gravar os discos com a banda a tocar ao vivo e em simultâneo, a experiência proporcionada pelos Sound City está ligada às pessoas que lá trabalhavam ou que lá gravavam: grupos como os Fleetwood Mac, Rick Springfield (que nas fotografias da época está quase sempre na companhia do cão Ronnie), Frank Black and the Catholics, Neil Young, Nirvana, ou os Queens of the Stone Age, entre dezenas de outros.


















Os Sound City, que vivenciaram, externamente, a mudança de paradigma do analógica para o digital, do vinil para o CD, e das grandes mesas de gravação para o Pro-Tools, foram sempre um lugar onde se privilegiou a música enquanto experiência colectiva, e se alguma coisa permite relativar o aspecto algo desajustado e claramente comercial do tempo que o filme de Dave Grohl gasta com o processo de gravação do CD Real to Reel (que aparenta ser média espingarda, não mais que isso), é que o mesmo visa também assinalar uma espécie de terceira vida (trasladada) dos Sound City: a segunda vida terá sido marcada no início dos anos 90 com o sucesso global de Nevermind, quando os estúdios corriam sérios riscos de encerrar. Figurada no estúdio 606 de Dave Grohl, onde pontifica a mesma mesa de gravação Neve, a que ele promete continuar a dar muito trabalho, é a defesa de um modo de produzir música que está em causa, muito pouco usual nos tempos actuais. 
A nostalgia de um objecto como este Sound City aponta ao passado e ao futuro, como qualquer história de amor digna desse sentimento.     

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