segunda-feira, 1 de abril de 2013

# 144




















A escolha de um título como O Pai das Minhas Filhas (2009) é todo um programa de cinema que o filme de Mia Hansen-Love confirmará na segunda metade. Quando a personagem do produtor Grégoire Canvel desaparece, apenas se extingue a figura do produtor, não o pai das crianças. A existência de Grégoire fundamentava-se, para o próprio, na existência dos filmes que produzia e que produzira. Para os que lhe eram próximos, sobretudo família e amigos, é a sua ausência que será sentida, e que no caso das três raparigas determinará uma nova relação com elas mesmas (mais sensível na filha mais velha, Clémence) e com a memória do pai. Os filmes serão objecto de um processo de liquidação e seguirão destinos diferentes e desconhecidos à razão dos vários credores. A frieza deste processo, por oposição às subtis repercussões emocionais que o desaparecimento de Grégoire irá provocar, diz-nos que o cinema de Mia Hansen-Love se coloca do lado da vida e que a importância dos filmes decorre de serem produto de vidas também. Mas que nunca poderão substituir-se a nenhuma delas.

Arquivo do blogue