sexta-feira, 21 de junho de 2013

# 263
























I Walked With a Zombie (Jacques Tourneur, 1943) é título que peca por escassez. Todos os elementos da família Rand Holland, responsável pela colonização da ilha de San Sebastian com escravos, são zombies. A vida deles ficou como que suspensa a partir do momento em que Jessica, mulher do meio-irmão mais velho, Tom, entrou num estado catatónico, diz-se, em resultado de uma uma febre tropical muito forte. Só que a única doença deste filme é o amor. O amor que "mata" e o amor que não oferece garantias de cura. Como estão todos "mortos", ou mortos-vivos, descrentes, cínicos, derrotados, quando a enfermeira Betsy chega de longa viagem, proveniente do Canadá, para cuidar da moribunda, só dela pode vir agora o amor. É isto que a faz tentar devolver à vida a mulher daquele por quem Betsy se irá apaixonar, supremo sacrifício de um coração puro e destemido. Betsy é a escolhida: pelo bebé de uma das empregadas nativas da casa de Paul, que sorri para ela; pelo negro gigante, em transe, que serve de porteiro que dá ou nega acesso às cerimónias voodoo, e que a deixa passar levando Jessica pela mão mesmo tendo Betsy perdido o lenço negro preso à lapela que funciona ali como salvo-conduto; ela é a escolhida não para resgatar o destino da família mas para precipitar os acontecimentos que implicam a salvação de uns pelo sacrifício de outros: aqueles para quem neste filme de um romantismo levado ao extremo a felicidade só pode ser alcançada para lá da vida. Como Tom comenta com Betsy quando a questiona sobre se ela se considera uma mulher bonita, o amor por uma mulher bela só traz complicações a ela e infelicidade a quem lhe sucumba aos encantos. Assim os outrora amantes adúlteros, Jessica mulher de Paul e o meio-irmão mais novo deste, Wesley, serão por Wesley sacrificados ao mar, naquilo que pode ser visto como uma salvação pela morte para que outros se salvem em vida. I Walked With a Zombie ou Tourneur a filmar em gótico a "tropical malady".

(visto na Cinemateca)

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