quarta-feira, 31 de maio de 2017
sexta-feira, 26 de maio de 2017
# 745
Il but un gorgée du cognac que son fils avait posé devant lui, se tu a nouveau. Dans le silence, Jed perçut les sifflements du vent, de plus en plus violents. Il jeta un coup d’oeil para la fenêtre : les flocons de neige tourbillonnaient, três denses, ça devenait une vraie tempête.
«J’ai toujours voulu être architecte, je crois…, reprit son père. Quand j’étais petit je m’intéressait aux animaux, comme tous les enfants probablement, quando on me posait la question je répondais que je voulais devenir vétérinaire plus tard, mais au fond je crois que j’étais déjà attiré par l’architecture. À l’âge de dix ans, je me souviens que j’avais essayé de construire un nid pour les hirondelles qui passaient l‘été dans la remise. J’avais trouvé dans une encyclopédie des indications sur la manière dont les hirondelles construisent leurs nids, avec de la terre et de la salive, j’y avais passé des semaines… » Sa voix tremblait légèrement, il s’interrompit de nouveau, Jed le regarda avec inquietude ; il avala d’un trait une grande gorgée de cognac avant de poursuivre.
« Mais elles n’ont jamais voulu utiliser mon nid. Jamais. Elles ont même cesse de nicher dans la remise… » Le vieil homme se mit soudain à pleurer, les larmes coulaient le long de son visage et c’était affreux. «Papa…, dit Jed, complètement désemparé, papa… » Il semblait ne plus pouvoir s’arrêter de sangloter.
« Les hirondelles n’utilisent jamais les nids construits de main d’homme, dit Jed três vite, c’est impossible. Même, lorsqu’un homme a touché leur nid, eles l’abandonnent pour en construire un nouveau.
- Comment tu sais ça ?
- Je l’ai lu il y a quelques années dans un livre sur le comportement animal, je m’étais documenté pour un tableau. »
C’était faux, il n’avait rien lu de tel, mais son père paru instantanèment soulagé et se calma aussitôt. Et dire, songea Jed, qu’il portait ce poids sur le coeur depuis plus de soixant ans !...
ROSEBUD, ROSEBUD...
quinta-feira, 11 de maio de 2017
# 744
MIRONES
Mirones de tudo, mirones de mulheres. Dizer os mirones é dizer pouco. Eles esperam, seguem, derivam, pacientam, ousam, trabalham com os dez mil dedos das duas mãos, ciciam convites, desembrulham obscenidades. Mais que mirones são batedores. Metem butes, exploram a zona, avaliam o mulherame, que pode não ser exactamente o miudame. Mirone não faz grande questão de escolher as vítimas por idades. Borracho ou dorázia, tudo lhe calha. Mirone é de boa boca. Seguirá até a coxinha, a estrábica ou a parecida com o pai, à simples suspeita de que alguma destas lhe dá sorte, lhe está a ligar. Tão capaz de longas marchas de aproximação, como do atracão repentino, o mirone quer é chegar à fala para então baratinar o material. Mirone é velho, novo, alto, baixo, insignificante, bem parecido, espadaúdo ou de peito nas costas. Mirone pode ser tudo. Caixeirinho, estudante, proprietário, pai de família, solteirão, viúvo, não sei que mais. Único requisito. Certa apresentação ou o que ele julga que é apresentação no trajar. Mirone pode estar apeado ou motorizado. Pode seguir a pé ou cercar de carro. Mirone pode ser dos de poiso certo ou dos deambuladores. Mirone trabalha sozinho ou em grupo. Em grupo é menos operático mas exibe mais palheta, maior desenvoltura verbal. Os machos que com ele emparceiram ajudam-no no seu espelhismo de muito homem. Mirone pode mostrar-se pessoa de maneiras mas a maior parte das vezes é grosseiro. Mirone pode ser imaginativo e engraçado mas acontece que quase sempre é chato e soez. Mirone é produto de um velho e tristíssimo equívoco. Até prova em contrário, todas as mulheres são fáceis. A mãe dele, mirone, à parte, claro. A ideia que o mirone faz da liberdade confina-se à dos seu próprios movimentos de mirone. As suas aproximações são regra geral mais dirigidas ao corpo do que ao espírito. Ele sabe com que material lida. A estatística dar-lhe-á razão? Mirones. Trotadores de ruas. Escavadores de passeios. Coçadores de ombreiras e de esquinas. Mirones, a estereotipia do ressentimento macho e da palavra. Mirones, nome insuficiente para uma actividade que se exerce, no dizer feliz de um poeta de há duzentos anos, "com os olhos, com a boca, com os pés, com as mãos e cotovelos".
(RTP Arquivos, 1971)
Mirones de tudo, mirones de mulheres. Dizer os mirones é dizer pouco. Eles esperam, seguem, derivam, pacientam, ousam, trabalham com os dez mil dedos das duas mãos, ciciam convites, desembrulham obscenidades. Mais que mirones são batedores. Metem butes, exploram a zona, avaliam o mulherame, que pode não ser exactamente o miudame. Mirone não faz grande questão de escolher as vítimas por idades. Borracho ou dorázia, tudo lhe calha. Mirone é de boa boca. Seguirá até a coxinha, a estrábica ou a parecida com o pai, à simples suspeita de que alguma destas lhe dá sorte, lhe está a ligar. Tão capaz de longas marchas de aproximação, como do atracão repentino, o mirone quer é chegar à fala para então baratinar o material. Mirone é velho, novo, alto, baixo, insignificante, bem parecido, espadaúdo ou de peito nas costas. Mirone pode ser tudo. Caixeirinho, estudante, proprietário, pai de família, solteirão, viúvo, não sei que mais. Único requisito. Certa apresentação ou o que ele julga que é apresentação no trajar. Mirone pode estar apeado ou motorizado. Pode seguir a pé ou cercar de carro. Mirone pode ser dos de poiso certo ou dos deambuladores. Mirone trabalha sozinho ou em grupo. Em grupo é menos operático mas exibe mais palheta, maior desenvoltura verbal. Os machos que com ele emparceiram ajudam-no no seu espelhismo de muito homem. Mirone pode mostrar-se pessoa de maneiras mas a maior parte das vezes é grosseiro. Mirone pode ser imaginativo e engraçado mas acontece que quase sempre é chato e soez. Mirone é produto de um velho e tristíssimo equívoco. Até prova em contrário, todas as mulheres são fáceis. A mãe dele, mirone, à parte, claro. A ideia que o mirone faz da liberdade confina-se à dos seu próprios movimentos de mirone. As suas aproximações são regra geral mais dirigidas ao corpo do que ao espírito. Ele sabe com que material lida. A estatística dar-lhe-á razão? Mirones. Trotadores de ruas. Escavadores de passeios. Coçadores de ombreiras e de esquinas. Mirones, a estereotipia do ressentimento macho e da palavra. Mirones, nome insuficiente para uma actividade que se exerce, no dizer feliz de um poeta de há duzentos anos, "com os olhos, com a boca, com os pés, com as mãos e cotovelos".
(RTP Arquivos, 1971)
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