"My wife is seven months pregnant with a baby we didn't intend. My fifteen-year old son has cerebral palsy. I am an extremely overqualified high school chemistry teacher. When I can work, I make $43,700 per year. I have watched all of my colleagues and friends surpass me in every way imaginable. And within eighteen months, I will be dead. And you ask why I ran?"
Breaking Bad é das melhores séries que me foram dadas a conhecer. No momento em que digo isto vi a primeira temporada (7 episódios) e mais 7 de 13 episódios da época seguinte. É uma série sobre a mentira, sobre o que a mentira revela de verdadeiro em relação a quem a profere, as intenções por detrás da mentira e as consequências da mentira nas relações que estabelecemos com outros. A mentira tem tendência para desencadear outras mentiras.
Abri com a citação de um momento crucial, quando a personagem principal, Walter White, após ter desaparecido por dois dias, e ao regressar se ter refugiado num estado clínico denominado de "fuga psicológica", para não continuar retido no hospital oferece uma versão dos factos ao médico que o avalia, que é em tudo verdadeira embora esconda o que na verdade aconteceu, mostrando por outro lado a ambiguidade da motivação de Walter para se dedicar ao fabrico de metanfetaminas. Será para deixar a família amparada financeiramente após a sua morte, ou para escapar às circunstâncias que dá ao psicólogo como explicação? Ou poderá ainda ser um pouco de ambas.
Breaking Bad oferece também uma possível versão actual, realista e texana da novela Dr. Jeckyll e Mr. Hyde, quando se dá o desdobramento da identidade do Dr. Walter White no Mr. Heisenberg, nome pelo qual Walt passa a ser conhecido no submundo do crime, numa zona de fronteira entre México e Estados Unidos. Pega-se em alguém com o nome de White, não no sentido de vazio mas de limpo, e inscreve-se sobre ele uma nova e perigosa identidade. Heisenberg é destemido, ao contrário de Walt que não quer largar o seu bem mais precioso: a família (mulher e filho). Embora exista ressentimento nessa condição. O casamento já conheceu melhores dias, e o rapaz é portador do estigma da deficiência.
Breaking Bad conta a história de um homem que a partir do momento que dá a perda da vida por iminente, acorda um subconsciente de coragem na transgressão impensável para alguém integrado e discreto como Walter. Walt faz aquilo que nós não temos coragem para fazer porque a comum das vidas raro leva o homem a ser confrontado com os seus limites e o modo de os superar. Isto num registo narrado e filmado como as adaptações de Cormac McCarthy ou Elmore Leonard ao cinema e televisão. Arriscaria dizer que as chegando a ultrapassar, como é próprio da sua natureza. A natureza de Heisenberg. Olé!