terça-feira, 30 de abril de 2013
# 184
"... prometo desiludir-me contigo e só contigo; prometo fazer de ti o único repositório dos meus pesares, em vez de os distribuir por vários casos extraconjugais e por uma vida de Don Juanismo sexual; analisei as diferentes opções para ser infeliz e foi contigo que escolhi comprometer-me. É este o tipo de promessas generosamente pessimistas e gentilmente pouco românticas que os casais deviam fazer..."
# 183
Não foi unicamente a experiência do amor que aconteceu na vida de James Blake entre o seu primeiro CD homónimo e agora Overgrown. O amor e a distância podem dar conteúdo lírico ao disco novo mas o que de mais notório sucede, sucede a nível puramente instrumental. É como se a primeira edição, James Blake (2011), funcionasse como ecografia onde se observava o organismo que aqui reconhecemos. James Blake é actualmente um artesão mais confiante, muito por obra dos concertos que deu e dos artistas que encontrou, em trabalho, e os que lhe validando o talento vieram com ele ter. A base musical de Overgrown continua situada entre o gospel branco e a electrónica dubstep, caracterizada por uma série de ecos e texturas que nunca favorecem a imagem definitiva, preferindo-lhe o seu reflexo, o seu fantasma. Esta abertura ao mundo da parte de James Blake faz de Overgrown um disco mais expansivo, com maior número de camadas instrumentais, batidas mais sensíveis nem sempre em desacelerando, uma música que não chega a empurrar o corpo para dançar, mas que nos convoca para uma audição mais desperta e activa. A voz de Blake perdeu também alguma timidez, tendo que fazer-se notar em ambientes saturados de acordes e percussões. A raiz emocional é no entanto (exactamente) a mesma de sempre. James Blake continua a gerir com grande sensibilidade as micro-nuances emocionais das suas canções, e acaba por ser esse o elo que nos liga a cada uma delas, sejam mais despojadas ou dinâmicas. Overgrown acrescenta vida e experiência ao trabalho artístico de Blake, o que é de todo natural e tanto mais expectável quando se trata de um jovem adulto em quem o mundo pôs os olhos e ouvidos, e que nos devolve hoje a cortesia. Overgrown concentra todo o James Blake, músico e indivíduo.
sábado, 27 de abril de 2013
# 179
Feministas deste nosso planeta culpado e esclarecido, fujam do filme. Quenianos do mundo inteiro, meus irmãos de corpo completo, uni-vos. Não mais se entreguem ao papel de paus-mandados, por muito que isso pouco vos custe. Isto foi o melhor filme deste IndieLisboa até ver. Até que alguém alcance mais além das fronteiras do politicamente incorrecto que o austríaco Ulrich Seidl. Fiquei fã.
Aviso: este filme tem fitinha cor-de-rosa.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
# 178
"Thunder only happens when it's raining/ Players only love you when they're playing"
Do último lote de aquisições: Fleetwood Mac, Rumours (um regresso), Roy Orbison, In Dreams, Gorillaz, Demon Days (a Mojo diz que é o melhor disco que Damon Albarn alguma vez fez...), The Neville Brothers, Yellow Moon, Nick Cave & the Bad Seeds, Kicking Against the Pricks.
terça-feira, 23 de abril de 2013
# 175
"I have met men in jail with style
I have met more men in jail with style
than men out of jail
Style is a difference, a way of doing,
a way of being done
Six herons standing quietly in a pool of water,
or you, walking out of the bathroom naked without seeing me"
As palavras de Bukowski de que este retrato de Ben Gazzara (1930-2012) se apropria - ele que fez de Bukowski no cinema, com Marco Ferreri - caracterizam uma ideia de estilo que se confunde com o talento que se confunde com a arte de viver. Gazzara conta no início o primeiro contacto que teve com a morte quando muito jovem viu um amigo desaparecer acidentalmente nas águas do Hudson. No momento decisivo, anos mais tarde, não hesitou e atirou-se para uma breve carreira no teatro que logo passou para a televisão e o cinema onde pagavam mais. O dinheiro ajuda a arte de viver. Ajuda saber gastá-lo com estilo. Viver com estilo, no cinema e fora dele. O estilo de Gazzara nasce da persona que criou em cima da sua timidez, onde se sentia seguro a desafiar o risco, embora controladamente. Teve longa vida e trabalhou até ao fim. Regressou do outro lado quando esteve como morto por três minutos (num pós-operatório) e diz que não se vê nenhuma luz branca. Provavelmente a morte é que terá ficado ofuscada com o seu brilho. É próprio do estilo sugar a luz em volta. Se virem este filme assistirão ao modo como Gazzara, de uma lucidez incrível e com uma vitaliade surpreendente para quem no final da vida ia buscar oxigénio a um pulmão apenas, ilumina as ruas de Manhattan por onde caminha à conversa com Joseph Rezwin, autor do projecto que conheceu Ben Gazzara a filmar com Casssavetes Opening Night (1977). E Ben Gazzara, o sedutor, que não tinha tempo para se envolver com actrizes porque o chamavam constantemente para filmar (segundo ele era o seu motorista que tinha o proveito), e que viveu os últimos 30 anos sempre com a mesma mulher, muitas horas de todos os dias. Que melhor definição de estilo que a descrição daquela relação (feita por ela, Elke Gazzara) de mais de três décadas? Central "part".
Passa sexta-feira na Cinemateca como parte da secção "director's cut" do IndieLisboa.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
# 174
"There is not really any other way for Simon to be with people, or to be in the world: he is fixated on the physical, both pleasurable and violent, to the exclusion of all else. This is how he expresses his dominance, how he understands his own masculinity. But this way of being is never excused, sentimentalized, or glorified in the film."
Excelente texto de alguém que valerá a pena seguir.
Excelente texto de alguém que valerá a pena seguir.
domingo, 21 de abril de 2013
# 173
Onde há vermelho não existe esperança. Nenhum espaço para recuperar uma cabeça doente. A colorização para fora traduz o que trazemos dentro, e o cinema é também a arte de tornar visível o que é interno. Simon Killer, hoje a amanhã no IndieLisboa.
sábado, 20 de abril de 2013
# 171
Um bom filme que originou uma boa entrevista e que espero venha a dar duas boas apresentações. Até mais ver aprendi a lição (ou alguma outra coisa).
sexta-feira, 19 de abril de 2013
# 170
Quis saber se a expressão "fuck the pain away" repetida várias vezes na última cena de Peaches Does Herself, quando Peaches abandona o teatro montada numa bicicleta, era um incitamento a ter(mos) sexo para fazer baixar a sensação de dor ou um grito que visa o exorcizar dessa mesma dor. Respondeu que funcionava das duas maneiras. Talvez fosse então uma pergunta retórica. Perguntas retóricas são como pólvora seca. Dali ninguém saiu nem mais nem menos magoado.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
# 169
Em Avanti Popolo, que integra a secção Cinema Emergente do IndieLisboa, até a cadelita Baleia é de esquerda. A apatia da bicha quando lhe lançam a bola para brincar, parece sofrer do contágio que mantém parada, inalterada, a casa onde vivem um idoso, interpretado pelo cineasta brasileiro Carlos Reichenbach (falecido recentemente), e o filho de 40 e picos anos que para lá se muda na sequência de divórcio. É um cenário algo desolador, que respira tédio, filmado sempre com o mesmo enquadramento para dar conta da sua natureza morta. Uma catacumba cheia de memórias do período da ditadura no Brasil, onde se guardam também os filmes em super 8 do outro irmão da família, desaparecido em 1974 em circunstâncias pouco explicadas. A casa morreu com ele e quem lá vive desloca-se de braços tombados. É preciso descascar muitas camadas de tédio até se perceber o humor que resiste em tão lacónico projecto. Aqui os amanhãs não cantam mais, excepto nos vinis de antigamente nem sempre no melhor estado de conservação. A paciência para hinos de países comunistas acabou-se, assim como disponibilidade para aceitar dogmas ou regras de qualquer índole. O realizador Michael Wahrmann faz uma bela voz de rádio, grave e tingida por uma certa melancolia, que assinala os começo e final de Avanti Popolo. Deparamo-nos com um objecto original e a possível versão uruguaia-judaica-brasileira de Nanni Moretti sedado. Sacudam-lhe o pó que não se vão arrepender.
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Subscrever:
Mensagens (Atom)